Paixão Côrtes se emocionou ao ser anunciado como patrono
Quando o relógio marcou 9h10min da manhã de ontem, a Feira do Livro de Porto Alegre deu mais um passo, em sua 56 edição, na direção da cultura popular e da busca pela tradição e pelos valores locais. Foi neste momento que o patrono da 55 edição, Carlos Urbim, anunciou o nome do folclorista santanense Paixão Côrtes, 83 anos, como o patrono do evento literário, que será realizado de 29 de outubro a 15 de novembro na Praça da Alfândega e no Cais do Porto. Tentando conter a emoção, com os olhos marejados, Paixão disse estar sensibilizado com a escolha. "Na realidade, não sou um escritor. Sou um escrevinhador que recolho as vivências do povo, salientando a história que herdamos dos nossos ancestrais", declarou o folclorista logo após o anúncio feito no restaurante Petiskeira, no Centro Histórico da Capital.
Paixão Côrtes foi o escolhido por um colegiado com cerca de 300 representantes entre cinco nomes, lista de patronáveis que incluia ainda o colunista do Correio do Povo, jornalista e escritor Juremir Machado da Silva; e os escritores Airton Ortiz, Jane Tutikian e Luís Augusto Fischer. A notícia surpreendeu a esposa, a estilista Marina Monteiro Paixão Côrtes, 53 anos. "Vínhamos conversando de manhã e a gente não imaginava que ele iria ser o patrono. Para nós, foi uma surpresa, pois estávamos com muitos compromissos relativos à Semana Farroupilha", salienta Marina.
O presidente da Câmara Rio-Grandense do Livro, promotora da Feira, João Carneiro, destaca que a escolha vem ao encontro de um dos principais objetivos e missões da CRL e do evento, que é a de trazer os não leitores para a Feira. "O Paixão Côrtes irá proporcionar esta aproximação do livro com a cultura popular", observa Carneiro. O café da manhã de anúncio do patrono teve, ainda, a presença do secretário estadual da Cultura, Cézar Prestes e de ex-patronos.
João Carlos D''Àvila Paixão Côrtes nasceu em Santana do Livramento, em 12 de julho de 1927. É agrônomo, folclorista, compositor, radialista e pesquisador da cultura brasileira. Ícone da cultura gaúcha, foi organizador e fundador do CTG 35, em 1948. Foi modelo do monumento Laçador, erguido em 1958, o principal símbolo de Porto Alegre. Responsável pelo renascimento do tradicionalismo, é o idealizador da Chama Crioula, da Ronda Crioula, do Candieiro Crioulo e inspirador do desfile da Semana Farroupilha. Publicou série de livros sobre a cultura gaúcha, como "Manual de Danças Gaúchas" (1956), com Barbosa Lessa, e "Danças e Andanças da Tradição Gaúcha" (1975). Seu livro mais recente é "Músicas, Discos e Cantares - Um Resgate da História Fonográfica do Rio Grande do Sul" (2001). Atualmente, realiza trabalho de divulgação da cultura gaúcha com palestras em escolas, piquetes e CTGs, onde distribui seus livros, além de pesquisa, que conta com mais de 700 páginas, sobre danças gaúchas para novo livro.
Fonte: Chasque publicado no Caderno Arte & Agenda, do Correio do Povo de Porto Alegre, no dia 2 de setembro de 2010 - http://www.correiodopovo.com.br/. Crédito do retrato é para Mateus Bruxel
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