sexta-feira, 11 de junho de 2010

História do Acordeon

Você sabia que...


O TCHNENG (ou Cheng), instrumento que deu origem a vários instrumentos, inclusive o acordeom, foi criado na China por volta de 3000 a. C., constituído basicamente de uma palheta de bambu que presa aos lábios virava com o auxilio dos dedos aproveitando a acústica da boca.

Conforme a região, aquele tipo de órgão portátil tocado por sopro, também podia ser shanofouye, hoelofouye, etc. A gaita dos chineses tinha a forma de um pássaro mitológico: Fênix, considerado o Imperador das Aves. Dezoito séculos depois de inventada, a Fênix sonora dos chineses, bateu asas para a Rússia. De lá, conquistou a Europa começando pela Alemanha.

Em 1822, na cidade de Viena, CYRILLUS DEMIAN, inventou um pequeno órgão de quatro acordes que chamou de acordeom. Surgia aí o primeiro modelo. Realizou as modificações que introduziu no invento chinês com os princípios da gaita como a conhecemos hoje: o sistema de palhetas livres, que vem a ser o aperfeiçoamento de outros instrumentos como o oeline e o aerofone.

O acordeom foi patenteado em 06 de maio de 1829, e em Londres no mês seguinte, 19 de junho, CHARLES WHEATSTONE promoveu o primeiro concerto. A partir daí o acordeom tornou-se popular e passou a ser símbolo de status.

A partir de 1863, PAOLO SOPRANI, apaixonado pelo novo instrumento; perdeu horas de sono trabalhando e desenvolvendo novos mecanismos e montagens, mudando palhetas, até chegar a um perfeito acordeom para a época, passando então à sua industrialização juntamente com seus irmãos Settimio e Pascoale.

Hoje existem três tipos básicos de acordeões, que são: o de teclados (gaita pianada), gaita-ponto (ou duas conversas, oito socos, gaita-de-botão, entre tantos nomes...), e o bandoneon (de tamanho um pouco maior do que a gaita ponto).

O instrumento consiste em duas caixas retangulares dispostas em posição vertical ligadas entre si por um fole de cartão plissado. Dentro das caixas estão as palhetas que, acionadas pela agitação de dois tipos de teclado, emitem som pela vibração da passagem do ar que é empurrado através dos movimentos do fole.

O peso do acordeom pode variar de dois a dezesseis quilogramas.

Eles chegaram ao Brasil junto com os primeiros colonizadores europeus, vindos da Itália, país onde até hoje se fabricam as marcas de gaita mais conceituadas do mundo.O acordeão possui um recorde significativo, praticamente inédito entre os instrumentos musicais: é talvez o único cujo som original até hoje não conseguiu ser fielmente reproduzido pelos modernos sintetizadores eletrônicos. Isto é: som de gaita, só com gaita mesmo!

Talvez, um pouco por terem pressentido essa valiosa característica de singularidade no acordeão, os gaúchos - tão ciosos de uma pretensa identidade singularmente própria em relação ao resto do país e do mundo - a tenham escolhido como instrumento representativo da própria música regional do Estado.

E talvez também não tenha sido por acaso que o florescimento da indústria das gaitas no Rio Grande do Sul guarde relativa coincidência com um outro período importante: aquele em que o germe do gauchismo deve ter começado a rondar as idéias dos jovens que, em 1948, fundaram o primeiro Centro de Tradições Gaúchas, o "35", que culminou no que é propagandeado por alguns notáveis, como um dos mais grandiosos movimentos de cultura popular do mundo: o Movimento Tradicionalista Gaúcho.

Nosso Estado chegou a ter 30 fábricas de gaitas, algumas das quais muito famosas como Todeschini, Universal, Scala, Marinella, Mondiale, Sonelli, Supremo, Somenzi, Silla, Mascarenhas, Tupy, Danielson, Veronese. Todas elas, provavelmente, foram embaladas pela idéia de alto consumo em que a grandiosidade de um gauchismo exacerbado induzia a crer. Mas, nenhuma delas foi mais bem-sucedida do que a Todeschini que, além de ter boa parte de sua produção consumida aqui mesmo, chegou a produzir diretamente para algumas famosas marcas européias. Tanto sucesso, sem dúvida nenhuma, se baseia no aspecto da qualidade das gaitas que os gaúchos produziam. Apesar de oferecem o aspecto fundamental da qualidade, entretanto, as fábricas nativas foram parando, parando, parando... e hoje permanece a fábrica dos acordeões Minuano de Santa Rosa.

Uma pequena história da Todeschini

A Rainha do Fandango é natural da cidade de Bento Gonçalves. A sua produção começou de modo formal em 28 de abril de 1939 com o nome Todeschini e Cia. Ltda. depois de ter passado por uma fase de artesanato caseiro, pelas mãos do mesmo Luis Matheus Todeschini que fundou a empresa.

Luis teve quatro filhos, mas nenhum se interessou pela fabricação de gaitas.

Em 1947 surgiu a empresa "Acordeões Todeschini S/A".

Em 1965, dezessete anos após a fundação do MTG, a empresa já exportava seus produtos para a Argentina, Chile, Venezuela, México e Estados Unidos, entretanto começou a enfrentar uma crise muito séria nas vendas internas, pois o Brasil havia entrado na era dos instrumentos elétricos e as pesquisas mundiais na indústria eletrônica avançavam em velocidade alucinante na área da música. A estridência do som de guitarras elétricas e os teclados eletrônicos conquistavam uma geração que, disposta a mudar a própria ordem do universo, precisava de volume suficiente para que sua mensagem fosse ouvida acima de qualquer outro som. Os instrumentos acústicos entraram em baixa no gosto da grande massa de consumidores da música, qual seja: a juventude. Foi nessa época que a Todeschini, na tentativa de ganhar fôlego, voltou-se para um mercado menos sujeito às ondas, modismos e sazonalidades: o mercado de móveis. O ano era 1968.

Em 1971, a empresa estava em franco desenvolvimento, assim como toda a indústria moveleira que florescia em Bento Gonçalves.

A unidade fabril ocupava uma área própria construída de 14.000 m2 e 470 operários produziam em média, mensalmente, 700 acordeões e 3.000 unidades de móveis diversos. O fogo que, na sexta-feira do dia 13 de agosto de 1971, atingiu a Todeschini ardeu durante dois dias e destruiu completamente as instalações da fábrica.

Mas, em 15 de outubro, a empresa ressurgiu das cinzas, sob a denominação de Todeschini S.A. - Indústria e Comércio, com cerca de 250 acionistas - a maioria deles, os próprios operários da fábrica.

Em menos de três anos após aquela sinistra sexta-feira 13, as novas instalações já tinham uma área construída de 11.000 m2 e 350 operários. A fabricação de móveis havia sido drasticamente aumentada para 8.000 peças mensais, contra uma violenta redução na produção das famosas gaitas: apenas 300 instrumentos/mês.

Boa parte da produção se destinava ao mercado europeu para complementar outra marca mundialmente conceituada: Hohner.

Honeyde e Adelar Bertussi eram os únicos músicos consultores da linha de produção. Eles passavam com freqüência pela fábrica, onde experimentavam as gaitas prontas, conferiam os resultados e sugeriam eventuais modificações. Os instrumentos eram fabricados de acordo com as orientações dos irmãos Bertussi.

Para cada instrumento finalizado, eram montadas nada menos do que 3.856 peças - todas elas produzidas dentro da própria fábrica, muitas delas de mínimo tamanho, exigindo rara precisão e pessoal com alta especialização prática. (Especialização esta, frise-se, sem muitas oportunidades de transmissão, para a necessária formação de novos profissionais.) Todas as gaitas Todeschini são numeradas e contém gravada na parte interna, na madeira, a data de fabricação.

Não tardou muito para que a fabricação da gaita se tornasse uma espécie de incômodo empresarial, pois o contexto de uma nova ordem econômica, com forte tendência para a automação de tarefas, já mostrava seu brilho intenso no horizonte matutino de um país emergente.

A Todeschini conseguiu uma combinação ideal: bom preço, alta qualidade - que se traduz em durabilidade, excelente sonoridade e muita leveza. Uma Scandalli, por exemplo, pode ser considerado "um luxo" para músicos gaúchos: é um instrumento caríssimo para os padrões de remuneração dos nossos artistas e, não bastasse isso, é pesada demais para as exigências de trabalho do mercado onde a esmagadora maioria deles atua: o baile. É um instrumento que se torna desconfortável para apresentações de média e longa duração. Após vários anos depois de paralisada a linha de fabricação das gaitas, a gauchinha Todeschini, ainda é o instrumento utilizado por nove entre dez gaiteiros gaúchos.

Isto é: a tradição dos chineses das primeiras eras cultivou a sua tcheng por 1.800 anos, até que ela viajou para a Rússia e conquistou o mundo, chegando na Itália, onde se tornou tradicional há priscas eras e é muito moderna hoje em dia. Há uns dois séculos a tradição italiana trouxe a semente do acordeom para o Rio Grande do Sul. E os italianos mesmo se encarregaram de plantá-la no solo - que imaginaram fértil - da nossa música. Cuidaram da plantinha até que ela se tomou uma árvore relativamente frondosa e bastante produtiva: em 30 de junho de 1948 - quando o primeiro CTG recém tinha dois meses de fundação - a Todeschini já havia frutificado nada menos do que 6.907 acordeões.

De forma que, em 1997, o Movimento Tradicionalista Gaúcho, criado a partir da fundação do "35", chega aos seus 50 anos de existência contabilizando lucros grandiosos: o poder inquestionável de 1.500 entidades filiadas, que congregam a força de nada menos do que I milhão de simpatizantes. E perdas vergonhosas: no mesmo período de tempo a gauchada conseguiu consumir - literalmente - com a Todeschini (que já existia desde 1939) e com todas as nossas outras fábricas de gaitas - o instrumento musical que melhor representa a música tradicionalista! Isso não é apenas um paradoxo, É uma verdadeira anomalia cultural.

É isso mesmo! Já pelo meio desse meio século, um que outro pêlo-duro de importância e renome dava o exemplo: demonstrando um certo desprezo pela excelente gaita gaúcha que os italianos fabricavam aqui, alguns músicos nativos refizeram parte da história musical da humanidade ao atravessar o Atlântico para buscar acordeons italianos... fabricados na Itália. Sem o menor constrangimento, dolarizaram parte da graninha arrecadada entre os gaúchos, nas portarias dos bailes de CTG, para importar acordeons. E isso, muito antes de o esquife da última de nossas heróicas fábricas de boas gaitas ter baixado ao túmulo do repouso eterno.

Fica mais fácil de aceitar que isso tudo seja realmente o efeito de uma séria anomalia cultural enraizada na alma de arautos da música tradicionalista, quando se sabe que essas beldades estrangeiras nunca freqüentam nossos modestos galpões de costaneira esburacada, ficando reservadas para aparições "especiais". Ao contrário do que acontece com guitarras, baterias eletrônicas, luzes de boite, fumaça de gelo seco, e demais etecéteras e tais que vêm de fora e que, por esses mesmos braços, freqüentam diuturnamente os CTGs acompanhando as Todeschini. Quando não, roubando dela a cena.

Uns contam que as italianas não são pesadas só no preço. Alguns reconhecem que o som da nativa é insuperável. Tem gente que confessa que é medo de expor uma estrangeira tão valiosa a um público de nativos tão mal-comportados. O resto se queixa: "Vai ver que o nosso CTG não é bom ambiente para uma Scandalli. Eu arrisco dizer que pode ser apenas o verdadeiro ego gauchista, falando mais alto: Para pegar no serviço duro, convoque um gaúcho qualquer. Na hora de fazer bossa, contrate um forasteiro.”

Ao longo desta história surgiram mais de duzentas fabricas de acordeom no mundo. Só no Brasil já existiram várias, a seguir:

Beija Flor - Blumenau - SC
Bertolini - Cachoeira do Sul - RS
Borghetinho - Blumenau - SC
Bunji - Porto Alegre - RS
Canpanhola - Caxias do Sul - RS
Capri - Porto Alegre - RS
Caravelli - Canela - RS
Dal Santo - Soledade - RS
Danielsson - Santa Rosa - RS
Frascati - Caxias do Sul - RS
Garibaldi - Garibaldi - RS
Genior - Cachoeirinha - RS
Hering - Blumenau - SC
Hohner - Blumenau - SC
Longuini - Caxias do Sul - RS
Luiz Zoplas - Garibaldi - RS
Marinela - Erechim - RS
Mascarenhas - Caxias do Sul- RS
Mesquita - Torres - RS
Minuano - Santa Rosa - RS
Mondiali - Caxias do Sul - RS
Pampa - Camaquã - RS
Pozza - Joaçaba - SC
Rampazzo - São Paulo - SP
Sapore - Santa Rosa - RS
Sartorelli - S. J.B.Vista - SP
Scala - Bento Gonçalves - RS
Scandalli - Blumenau - SC
Scapoera - Nova Prata - RS
Slavia - Canoas - RS
Sila - Canoas - RS
Somenzi - Getulio Vargas - RS
Sonave - Porto Alegre - RS
Sonelli - Canela - RS
Soprano - Caxias do Sul - RS
Supremo - Caxias do Sul- RS
Suprema - Caxias do Sul - RS
Terser & Corsetti - Caxias do Sul - RS
Todeschini - Bento Gonçalves-RS
Triches - Soledade - RS
Trovador - Canoas - RS
Tupy - Caxias do Sul - RS
Universal - Caxias do Sul - RS
Veronese - Porto Alegre - RS
 
Fonte! Chasque publicado no sítio http://www.acordeom.com.br/;
 
Retrato - acordionsta Edu Vicente, dos PAMPEIROS, com a sua Todeschini preta, acompanhado por Alzeneide Benck.

3 comentários:

  1. Boa noite.
    Sou natural do RS mas atualmente moro em Florianópolis. Meu sogro foi um dos fundadores da fábrica de gaita "Sonave" de Porto Alegre. Sinto muito orgulho por ele fazer parte da história deste instrumento que leva a nossa cultura para o mundo todo. Ao mesmo tempo sinto pelas dificuldades enfrentada na época e que os forçaram a fechar a fábrica. Gostaria do apoio dos irmãos para saber se existe alguma gaita sonave perdida pelos pampas, pois mesmo que por meio de uma foto, seria uma alegria imensa para ele que está com seus 84 anos ver sua cria.

    Muito obrigado.

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    1. Opa ... nunca ouvvi falar dessa fabrica. Tenho um blog que tenho registrado a historia do acordeon e estou buscando informações a respeito das fabricas que existiram para guardar esses registros histopricos. Se tiver interesse em compartilhar algo sobre acordeons entre em contato. visite meu blog www.recantodasgaitas.blogspot.com ou pelo email recantodasgaitas@gail.com Um abraço !

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  2. Muito legal essa historia. Tambem tenho um blog dedicado ao acordeon e desde 2013 me dedico a arte de consertar e restaurar essas reliquias. Visite recantodasgaitas.blogspot.com. Forte Abraço !

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