terça-feira, 26 de abril de 2011

Rui Biriva - Morre a alegria de bombacha

Como dói noticiar a morte de artista tão querido, de um amigo tão especial. Perdemos um cantor que era símbolo de alegria, alto astral, e amizade. O Nico Fagundes sempre o apresentava “a alegria de bombacha tem nome, e esse nome é Rui Biriva”. O Rui morreu às 22h45, deste 25 de abril, no Hospital de Clínicas de Porto Alegre, onde estava internado para tratar um câncer de intestino. Segundo um dos integrantes de sua banda, o Luciano Camargo, o velório será na Câmara de Vereadores de Porto Alegre. O enterro deve ser realizado em Horizontina, sua terra natal.

O Rui lutou como um guerreiro contra a doença que o tinha afastado dos palcos... e ficamos nós, seus fãs e amigos sem entender por que uma pessoa que só distribuía alegria e amizade precisava partir tão cedo...

Quando conheci o Biriva, no 1º Acampamento da Canção, em Campo Bom, ele ainda era o Rui da Silva Leonhardt, e conquistou a todos com a música “Rebanho de agonias”, uma das mais lindas que cantou:

"Um rebanho de agonias
me foi dado em testamento.
No rumo dos quatro ventos
esparramei alegrias.
Não canto melancolias.
Não sou pastor de tormentos.
Alegrias eu invento
guitarreando noite e dia"

O talento revelado nos festiviais logo passou a ser chamado de Rui Biriva, por ter cantado na Seara, festival de Carazinho, a música Birivas, do Airton Pimentel, em 82. Ele cantava música mais intimistas, como estas e Santa Helena da Serra... cantava com a alma... e continuou fazendo isso quando adotou seu estilo festeiro no palco. Ele era uma festa. Era contagiante seu alto astral, seu jeito querido de tratar a todos à sua volta.

O Rui colheu sorrisos por onde passou... fez pessoas terem momentos de felicidade em seus shows. Riu muito, fez os outros rirem e, quando se achava que o palco era o seu lugar ele nos apresentou outro talento: o de apresentador. E em seu programa na TVE nos encantava, mostrando como ninguém as relíquias dessa terra, desbravando a gente simples do Rio Grande e fazendo isso com muita alegria.

Por isso quando lembro dele agora e vem essa tristeza tão grande, chega a me dar um pontinha de vergonha... porque não é assim que se deve lembrar dessa pessoa tão alegre e feliz. Força à esposa, a Priscila, e ao seu filho Gerônimo. Que a gente supere essa tristeza lembrando da felicidade e alegria que sempre nos transmitiu. E como diz a música Canção do Amigo, que ele cantava lindamente “amigo é pra toda a vida”...

Fonte! Chasque de Tania Goulart, publicado no sítio (blog) ABC do Gaúcho, no dia 26 de abril. Abra a cancela e dê uma camperiada no sítio, clicando em http://www.diariodecanoas.com.br/blogs/abc-do-gaucho/ . O retrato também foi publicado no Diário de Canoas.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Centro de Tradições Gaúchas completa 63 anos de idade

O CTG surgiu de um rompante juvenil.
Hoje, é o movimento de cultura popular brasileira mais organizado

Em abril, o primeiro Centro de Tradições Gaúchas (CTG) criado no Brasil completa 63 anos de idade. É o 35 CTG, que fica em Porto Alegre. Surgido de um rompante juvenil, o CTG se transformou no que é provavelmente o maior movimento de cultura popular, organizado e centralizado, do país.

Muitas cidades têm uma estátua como símbolo, mas, em Porto Alegre, há duas particularidades: a estátua foi escolhida em uma eleição com mais de 500 mil votos e foi baseada em um modelo vivo, uma pessoa do mundo rural, Paixão Cortes. “É bom ser estátua, mas é melhor estar vivo”, diz.

A forma em gesso do laçador, vista na oficina do escultor Antônio Caringi, ficou pronta em 1954. Quatro anos, foi inaugurada em bronze, junto à entrada de Porto Alegre para quem chegasse pela BR-116.

Em 1977, uma foto mostra Paixão se pondo diante do laçador da bronze para mostrar como são bem parecidos o modelo e a estátua. Mas o que fez Paixão Cortes para se transformar em monumento em vida? “Dancei, cantei, sapateei e tenho a minha família. Fora esses aspectos artísticos, duas coisas eu distingo”, afirma.

Estamos indo para uma criação de ovelhas, cenário da primeira coisa que o Paixão fez. É do tempo em que ele, depois de formado em agronomia, era especialista em ovinos da Secretaria da Agricultura do Rio Grande do Sul.

A tosquia tradicional de ovelha no estado era sempre feita com uma tesoura, em um corte denominado “de martelo”. Paixão foi contra esse corte porque, além de ter de amarrar as quatro patas da ovelha e eventualmente feri-Ia, produzia lã de segunda linha. E o tosador, ficando em posição incômoda, rendia pouco. Introduziu, então, a tosa por maquininha, sistema que conheceu por meio de ovinocultores australianos.

“O segredo da técnica é o ovino não botar a pata firme. Ele não tem como se apoiar, e, consequentemente, não levanta. É só um jogo de pernas”, diz Paixão. Em seu livro sobre ovinos, da mesma época, ele propôs especiais da carne de cordeiro e formas de melhor aproveitá-Ia.

Para lembrar a segunda coisa mais importante de sua vida, Paixão, aos 85 anos, monta de puxa uma linha de sete cavalos arriados, vazios. Repete a caminhada que fez em 1947,entre o Colégio Júlio de Castilhos e o centro de Porto Alegre.

Ele e mais sete estudantes tinham se vestido de gaúchos, e foram os oito participar de um cortejo que acompanhava os restos mortais de um herói da Guerra dos Farrapos. Esse conflito, que os gaúchos preferem chamar de Revolução Farroupilha, foi um movimento contra o Império na primeira metade do século XIX e que durou dez anos.

Aqueles oito estudantes queriam que, na solenidade, houvesse uma escolta de honra, gaúcha, típica. Parecendo hoje coisa simples, aquele gesto, na época, soava extravagante. Já em sua casa, um apartamento classe média em Porto Alegre, Paixão parece receber de volta a energia da juventude quando relembra aquele fato. “Passou uma pessoa desavisada que me viu com roupas típicas e gritou para mim ‘o carnaval já terminou, palhaço, que fantasia é essa?’”, diz.

Vindo do campo, o estudante Paixão estranhava, na cidade grande, o preconceito que havia contra o gaúcho, isto é, o homem simples da estância, da lida com gado. “Bota, bombacha, lenço no pescoço, na nossa cidade, capital do Rio Grande do Sul, eram vistos como maus elementos. Não entrava em um clube, era proibido de entrar no cinema e até na rua era mal vista. Se tomava condução, um bonde, não podia sentar”, afirma.

Resolveram então fundar uma entidade, em 1948, para cultuar a história e a cultura do Rio Grande, principalmente em relação ao mundo rural. Foram três dias de reunião só para escolher o nome.

Afinal, veio o batismo: 35 CTG. CTG, de Centro de Tradições Gaúchas. 35, para lembrar 1835, ano do início da Revolução Farroupilha. Mas a idéia, três anos depois da fundação, não estava dando muito certo. “Vivi grandes emoções aqui. Uma delas foi quando um cidadão, que tinha sido patrão aqui da casa, me procurou e falou que estava com uma missão muito triste para ser cumprida, que precisava fechar as portas do CTG 35. Estava com dívidas e não tinha sede. Falei ‘não faça isso, pelo amor de Deus. Precisamos lutar’”, afirma o agricultor Ody Pedro.

Começou , então, um movimento de pessoas e recursos tão forte que, não só o 35 não fechou, como passaram a surgir CTGs não só no Rio Grande do Sul, mas no país inteiro. Hoje, existem em quase todos os estados.

A relação de CTGs por estado é: Roraima, 1; Acre, 1; Amazonas, 3; Rondônia, 33; Tocantins, 1; Rio Grande do Norte, 1; Bahia, 5; Goiás, 10; Mato Grosso do Sul, 19; Mato Grosso, 19; Espírito Santo, 1; Rio de Janeiro, 7; Minas Gerais, 2; São Paulo, 28; Paraná, 255; Santa Catarina, 586; Rio Grande do Sul, 1.611. Há 12 no exterior.

No Brasil, os CTGs movimentam pessoas e recursos. Erival Bertolini, dirigente nacional do movimento, lembra que os Centros têm áreas esportivas, recreativas e sociais e campeiras. Fixando-se, porém, apenas no aspecto artístico, músicos envolvidos, dançarinos de danças típicas e participantes de fandangos, com roupas a caráter, o número de pessoas é grande, mais de 1 milhão.

Fonte! Este chasque foi publicado no sítio do G1 - http://www.g1.globo.com/, no dia 10 de abril de 2011. Fonte do retrato! Sítio do Inema - http://www.inema.com.br/